Por Ana Cristina Galo
Participar do CONVERGE sempre nos surpreende. Essa é a 2ª. vez que participo e é maravilhoso poder confirmar, esclarecer, conhecer, compartilhar e entender ideias. Algumas vezes não só a novidade que surpreende, mas uma nova forma de ver e fazer algo que já fazemos, de uma forma diferente; enxergar uma nova perspectiva.
Eu quero escrever para vocês justamente sobre uma situação assim: uma forma de pensar e fazer a avaliação de desempenho, usando a abordagem do coaching.
A proposta apresentada por Claire Pedrick, MCC no Reino Unido, é usar os princípios do acordo de coaching em qualquer conversa, mesmo que essa conversa não seja o puro coaching; mais especificamente, usar a abordagem do coaching para fazer uma avaliação ter relevância e impacto positivo para o avaliado.
Claire Pedrick usa a competência 2 da ICF: co criando o relacionamento – estabelecendo o acordo de coaching, para balizar a abordagem no contexto da avaliação. E nos chama a atenção para alguns aspectos relevantes, que apresento a seguir.
Para uma avaliação ter resultado positivo, é preciso estabelecer uma relação de confiança, e essa relação não se estabelecerá se houver muito poder envolvido. Se a distância entre o avaliador e o avaliado for muito grande, as possibilidades de um impacto positivo acontecer serão pequenas. Essa não será uma situação para ser resolvida apenas no momento da avaliação; essa relação é uma construção.
Um ponto de partida para o estabelecimento dessa relação de parceria é perguntar para si mesmo e para o outro: “ eu posso lhe oferecer alguma coisa”? Não somos nós que dizemos que temos algo que o outro precisa ouvir, mas o outro que nos dá o espaço para contribuir. A ideia apresentada pela palestrante é construir o acordo de coaching em cada conversa, utilizando as perguntas:
- O que estamos fazendo agora?
- Como fazer isso acontecer?
- Como saber que foi feito?
Claire Pedrick usou a analogia com a bicicleta de 2 lugares, onde na frente fica a pessoa que dá a direção e pedala, e atrás fica a pessoa que só pedala. Você já tentou andar numa bicicleta dessas? É preciso muita sincronia entre os dois para o passeio ser bem sucedido. É preciso ainda que a pessoa que está na posição de trás entenda que seu papel é contribuir com a energia necessária para a bicicleta se locomover e experimentar passar por lugares que quem decide é quem está na direção. E isso também acontece com a conversa de coaching: a posição do coach é no segundo assento, na condição de “ofertar alguma coisa”, entendendo que a jornada é de quem está na frente: “it´s theyre journey!(a jornada é deles!). E nosso papel é de um entusiasta e apoiador. Em inglês a palavra que define essa posição é STOKER. Sua tradução literal é “fogueteiro; ou aquele que coloca fogo na locomotiva”. Numa linguagem mais popular, stoker é uma pessoa entusiasmada, positiva diante das situações, mesmo que desafiadoras.
Com essa ideia, Claire Pedrick propõe um acróstico, usando a palavra no plural – STOKERS – para nos ajudar a lembrar nossa posição na jornada do outro:
Subject: sobre o que precisamos pensar hoje?
Time: no que precisamos focar para aproveitar o tempo que temos?
Outcome: no que você gostaria de focar para aproveitar o tempo que temos?
Know: como você vai saber que você teve o que estava precisando ao final do nosso encontro?
E (sem nenhuma pergunta associada; estamos livres para criar nesse espaço!)
Role: como nós vamos fazer isso?
Start: por onde devemos começar?
Se estamos trabalhando em parceria, devemos usar uma linguagem de parceria. Sempre perguntar para a pessoa, no decorrer da conversa, o que ela está notando nas situações descritas durante a conversa, e não pedir para a pessoa diagnosticar. Pedir para a pessoa dizer o que notou afasta as possibilidades de diagnóstico. É pedir para o outro dizer o que notou e não descrever o que vê. Ao dizer o que vê, a própria pessoa atribui significado, e não corremos o risco de invadir o outro com o nosso próprio significado.
Fazer uma avaliação valer a pena usando a abordagem do coaching nos coloca na posição de acompanhar o caminho do outro, ajudando-o a manter o equilíbrio e o entusiasmo, mesmo diante de situações desafiadoras.
E foi assim que eu saí dessa palestra: entusiasmada, com mais vontade de compartilhar, entendendo mais ainda a importância de estudar e se preparar para participar do processo do outro na posição correta, e na certeza que o coaching levado a sério e praticado com consciência, tem muito a contribuir para um mundo melhor, com pessoas na sua melhor forma, no seu melhor momento! Aliás, essa foi a grande provocação de todo o congresso: qual a grande contribuição que o coaching pode fazer para a sociedade, para a humanidade e para o planeta? Como você responde a essa provocação? E o que efetivamente você tem feito sobre isso?
Ana Cristina Galo
Coach, psicóloga organizacional, facilitadora de grupos.