Que a prática do coaching nos enriquece com ensinamentos, acumulados pelas horas de conversa com os mais diferentes perfis de executivos que nos apresentam diversos cenários e situações, isso já sabemos. No entanto, um dos principais aprendizados que tive como Coach, e que muitos não se dão conta, é que às vezes o que se apresenta como real não é fato. Não é que o cliente esteja mentindo, mas uma inferência ou interpretação passa a fazer parte do universo dele como se fosse um fato. Você pode pensar que essa é uma discussão filosófica, mas não é!
Esse tipo de situação acontece muito e o tempo todo com todos nós, pois como todo coach sabe, temos paradigmas, crenças e modelos mentais que filtram a nossa realidade. Assim, esse olhar “contaminado”do cliente faz com que ele misture interpretação com fato, o que, em geral, causa sofrimento, danos e ruídos nas relações.
Esta situação fica mais grave quando esta interpretação se transforma no que chamamos de profecia autorealizável, ou seja, passamos a lidar com uma determinada interpretação de tal forma que de tanto repeti-la, ela se torna verdade, pois sem percebermos fizemos tudo para que aquilo se tornasse um fato. O exemplo mais simples deste fenômeno é o seguinte: se a população acreditar que um banco vai quebrar, ela irá correndo tirar seu dinheiro de lá, acarretando assim na quebra do banco.
Mas como o coach pode apoiar seu cliente e desconstruir essa percepção? Primeiro o Coach não deve “comprar a estória” que o cliente está trazendo, isto quer dizer que ele deve fazer perguntas para verificar se o cliente está errado? Não!!!! “Não comprar a estória”é sempre acreditar que o cliente tem um potencial a desenvolver e suspender qualquer julgamento. É fazer perguntas não para testar a percepção do cliente, mas para apoiá-lo na descoberta de outros ângulos da situação. Por exemplo, quando ouvir o cliente dizer: meu chefe é um chato e me pressiona muito. Deve perguntar: se você fosse o chefe dele qual o feedback que daria? O que leva você a acreditar que ele é um chato? Quando você fala em pressão, qual o real significado disso? O que você faria no lugar dele? Só através de reflexão, o cliente poderá perceber o que é fato e o que é inferência/interpretação.
Para o cliente a importância de distinguir uma coisa da outra é que a interpretação é resolvida com um trabalho interno que o coachee irá fazer para rever suas crenças, enquanto os fatos irão demandar ações concretas junto ao outro. Então, se o coach “compra a estória” e também mistura fato com interpretação a profecia autorrealizável não é detectada pelo cliente e o coach não está fazendo seu papel.
Assim, coach e cliente conscientes dessa distinção, terão maior facilidade para lidar com os desafios, é a isso que a Competência 8: Criando Consciência se refere quando define que o Coach:
“Esclarece ao cliente suas preocupações subjacentes, modos típicos e rígidos de perceber o mundo e a si mesmo, diferenças entre fato e interpretação, falta de harmonia entre pensamento, sentimento e ação”
Eliana Dutra, MCC, CEO da ProFitCoach e Membro do Grupo Nikaia
Eliana Dutra, MCC
CEO da ProFitCoach